
Uma 2ª Independência?
As eleições de 9 de Outubro de 2024 marcaram, sem dúvida, um momento histórico para o país e o início de uma mudança. Pela primeira vez, testemunhamos manifestações prolongadas que, além de exigir resultados eleitorais verdadeiros e justos, denunciaram o mal-estar social que afecta especialmente a juventude.
Infelizmente, essas manifestações tomaram um rumo violento e de vandalismo, com roubos e assaltos a bens públicos e privados. Foram situações difíceis de controlar, mas, talvez, fáceis de prever. De facto, grupos de oportunistas e vigaristas aproveitaram o momento de caos para saquear e abusar de bens alheios.
A polícia, por sua vez, nem sempre conseguiu conter a violência. Em algumas ocasiões, a resposta armada das forças de segurança gerou reacções ainda mais intensas por parte dos manifestantes, resultando na destruição de muitos postos policiais espalhados pelo país.
Essa realidade expõe um profundo estado de frustração e insatisfação social, especialmente entre os jovens. Trata-se de uma frustração acumulada, alimentada pela indignação contra uma classe dirigente frequentemente acusada de corrupção e má gestão dos recursos nacionais.
O dilema enfrentado nesses dias é claro: escolher entre “destruir ou construir”. Porém, diante da emoção descontrolada e da infiltração de grupos de criminosos, prevaleceu a destruição e a violência. Com isso, perdemos a oportunidade de alcançar o que poderia ser uma segunda independência.
Uma independência de um modelo económico e social que não privilegia o bem comum nem oferece oportunidades iguais para que os jovens construam o seu futuro.
Uma independência da arrogância de quem governa.
Uma independência da corrupção que, em todos os sectores, abusa e humilha a dignidade humana.
Uma independência do servilismo às grandes corporações internacionais que exploram o território nacional.
Uma independência dos mecanismos sociais que dividem as pessoas com base em sua religião ou ideologia política.
Uma independência da escravidão cultural que transforma a inveja no “pilar” do progresso.
A grande questão é: será que quem foi eleito, ou quem afirma ter sido eleito, ouvirá o clamor do povo moçambicano?
Não podemos culpar apenas os marginais que se infiltraram nas manifestações. Eles já existiam antes dos protestos; não são um produto dessas manifestações. Continuarão a existir enquanto representarem as feridas abertas de uma sociedade que precisa de cura.
Muitos afirmam que essas destruições atrasam o país. É verdade. Por isso, não podemos permitir que o futuro de Moçambique seja decidido pela violência, pela pilhagem ou pelo vandalismo. Devemos, sim, construir uma nação mais justa e inclusiva para todos.