Uma encíclica para todos: irmãos e irmãs

Uma encíclica para todos: irmãos e irmãs

Desde a sua eleição, o Papa Francisco fez da palavra “irmãos” o coração do seu ensinamento. Assim irmãos são os invisíveis que ele abraça em Lampedusa (ilha italiana ponto de chegada marítimo de muitos imigrantes vindos da África) que foi a sua primeira saída como Pontífice e os últimos e os esquecidos da sociedade a quem dedica as suas atenções. Também Shimon Peres e Abu Mazen que apertam juntos a mão com o Papa em 2014 são um exemplo dessa fraternidade que tem a paz como meta, assim como os representantes do Sudão do Norte e do Sul a quem ele beijou os pés. Até a Declaração de Abu Dhabi de 2019, também neste caso um documento sobre a “fraternidade humana” que, disse Francisco, “nasce da fé em Deus que é Pai de todos e Pai da paz”. E assim, como continuação do seu projecto pastoral, no dia 3 de Outubro no túmulo de S. Francisco em Assis, assinou a carta encíclica, que quer dizer circular, “Fratelli tutti” dedicada à fraternidade e amizade social.

O título é uma citação de São Francisco (encontrada nas Admoestações, 6, 1: FF 155), o Papa escolheu as palavras do santo de Assis para inaugurar uma reflexão sobre um tema com o qual se preocupa muito como a fraternidade e a amizade social e por isso pretende se dirigir a todas as suas irmãs e irmãos, todos os homens e mulheres de boa vontade que povoam a terra.

Vivemos num tempo marcado pelas guerras, pobreza, migração, mudança climática, crise económica, pandemia: reconhecer-nos como irmãos e irmãs e reconhecer em quem encontramos um irmão e uma irmã, é para os cristãos, reconhecer no outro que sofre o rosto de Jesus, é uma forma de reafirmar a dignidade irredutível de todo ser humano criado à imagem de Deus. É também uma maneira de nos lembrar que nunca poderemos sair sozinhos das dificuldades atuais, um contra o outro, Norte contra Sul, ricos contra pobres. Em Moçambique bem conhecemos as tragedias provocadas no passado, a guerra civil e até hoje com os atendados no centro do Pais e os actos terroristas perpetrados em Cabo Delgado.

 

Por último, esse tempo de recolhimento forçado para muitos, devido à pandemia da COVID-19 e impelido pelo Jubileu da Terra proclamado pelo Papa Francisco no 5º aniversário da Laudato Si’, é tempo de reflexão e de conversão ecológica, tempo de decidir que tipo de Casa Comum queremos para o futuro. Temos que crescer em solidariedade e em amor a tudo que é criado, especialmente aos humanos, nossos irmãos e irmãs.

Somente assim: “Seremos o ‘homo solidarius’, o princípio de uma nova era, da bio civilização, na qual a vida nas suas diversidades terá a centralidade e tudo o mais será a serviço dela. A vida vale por si mesma. Juntos na Casa Comum gozaremos da alegre celebração da vida” (Leonardo Boff).

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