
Vida Nova Julho 2024
É preciso reanimar a Democracia
Foram necessários três dias para Jesus ressuscitar dos mortos. E a história é nossa. Nunca é tarde para construir ou reconstruir. A mudança habita nos nossos corações e nos nossos dedos. A nossa democracia está ficando moribunda sob o nosso olhar cúmplice.
Assistimos em Outubro do passado 2023, a gritos e lágrimas fazendo-se ouvir em todos os lados do nosso país, na sequência das irregularidades do processo eleitoral, que desestabilizaram a nossa alegria de cidadãos moçambicanos.
Estamos à beira da campanha eleitoral, momento em que cada candidato às eleições presidenciais manifestará o seu projecto político para o destino do nosso país. As experiências do ano passado deixaram sequelas tristes no coração de cada moçambicano: destruição de materiais de campanha, confrontos violentos, pessoas presas injustamente, actuação questionável dos que deveriam garantir a ordem e tranquilidade públicas, irregularidades na votação, entre outros.
A reanimação da nossa democracia exige colaboração de todos e de cada um. Não se pode exigir direito e justiça metendo a mão no fogo. Sobre este pressuposto, a CEM (Conferencia dos bispos de Moçambique) delineia um forte apelo para que o próximo pleito eleitoral seja livre, justo e transparente:
- Aos órgãos eleitorais, recai a responsabilidade de zelar pela transparência e independência de todas as decisões tomadas levando a sério a expressão da vontade popular, evitando a manipulação e a desinformação;
- Aos partidos políticos, vai o apelo para que escutem e acatem a vontade dos eleitores;
- Aos candidatos, que sejam pessoas idóneos e com postura ética, conscientes de que governar é estar ao serviço do povo e da nação;
- Às organizações da sociedade civil, que continuem a trabalhar na preparação do eleitorado para que este esteja consciente da responsabilidade e importância do seu voto;
- Aos observadores eleitorais, que tenham a coragem de dizer a verdade da sua observação;
- Aos meios de comunicação social, que pautem pela objectividade e transparência;
- A todos os moçambicanos, que participem massiva e conscientemente nas diversas etapas: recenseamento (já passado), votação e contagem dos votos.
Estes sete (7) apelos da CEM são a voz da Igreja que nos quer ver gozando de uma paz duradoira no nosso país. São uma forma de continuar a construir o reino de Deus na terra, que é “um já ainda não”. Que é “um já” no sentido de que o reino de Deus começa aqui na terra; e “ainda não” para dizer que de forma plena o teremos assim que formo-nos encontrar com Deus face-a-face. Os três meses (Julho, Agosto e primeira semana de Outubro) de intensa preparação destas eleições são suficientes para materializar e reavivar a democracia moçambicana, bastando para isso haver união entre os órgãos eleitorais, partidos políticos, candidatos, observadores eleitorais, a imprensa e de cada moçambicano à causa comum: o bem-estar dos moçambicanos.
Portanto, a nossa democracia reanimar-se-á se nenhum moçambicano se deixar manipular. O facto de ser membro de algum partido político não implica que deva votar no candidato desse partido se o seu projecto político não o convence e se conhece a sua incapacidade de dirigir uma nação.
Pe. Serafim João Muacua