
VN outubro 22
“A PAZ É UM BEM URGENTE E POSSÍVEL”
Durante muito tempo, os moçambicanos lutaram, unidos, visando alcançar os caminhos para a paz efectiva no país. Entretanto, os esforços empreendidos parecem ter caído na relativização do dom da Paz. Por isso, ao comemorarmos 30 anos da assinatura do Acordo Geral da Paz, apraz-nos recordar alguns elementos para a sua consolidação.
Na carta Pastoral, de 15 de Janeiro de 1994 “consolidar a Paz” os bispos de Moçambique alertaram as comunidades cristãs e homens boa vontade para aquilo que consideraram como “a falta, na nossa sociedade, dos alicerces indispensáveis para se poder construir solidamente a Paz de Jesus Cristo no nosso País”. Principalmente, o destaque vai para a falta generalizada de um autêntico compromisso com a fraternidade e o bem comum, com a verdade e a honestidade e com a justiça, patentes na corrupção generalizada. Isso manifesta-se, antes de mais, na tendência para se monopolizar o poder e o espaço político e no medo de o partilhar.
Com efeito, a Paz verdadeira só será possível num ambiente onde se vive a cultura de diálogo: que deve ser aberto e franco, sincero e tendente a levar à reconciliação nacional. Ou seja, apresentar a verdade que se julga ter e dispor-se a escutar a outra parte. Assim, “o diálogo deve ser sincero na sua própria proposta e durante o próprio acto de diálogo, o que implica não levantar obstáculos nem meter atitudes de orgulho”. Além disso, o diálogo exige coragem para sobrepor o bem comum aos interesses particulares ou alheios ao bem do povo moçambicano. Talvez seja isso que falta aos acordos de paz assinados em 1992 (em Roma), em 2014 e 2019 em Maputo.
O Papa Paulo VI, na mensagem para o Dia Mundial da Paz do ano de 1971 disse: “A paz verdadeira deve ser fundamentada sobre a verdade e sobre a justiça, sobre o sentido da intangível dignidade humana, sobre o reconhecimento de uma feliz igualdade entre os homens, sobre o dogma fundamental da fraternidade humana, isto é, do respeito, do amor devido a cada homem porque é homem”. Mas, durante estes 30 anos do AGP assistimos com relativa frequência, à grave violação dos direitos humanos com matanças indiscriminadas. Aliás, um dado mais cru é o terrorismo, em Cabo Delgado, que vem desde Outubro de 2017. É imperioso reconhecer que o povo tem o direito de viver e de viver em paz. Este direito implica o dever de todos respeitarem e defenderem a vida e a paz.
Mas para que isso aconteça devemo-nos empenhar em demolir com coragem e dedicação a muralha da pobreza moral e espiritual. Em outras palavras, devemo-nos empenhar na mudança da maneira de pensar e de agir. A verdadeira guerra que mata e arruína o país está dentro de nós. Assim, não basta o silêncio das armas enquanto não desarmarmos as nossas mentes. Mudar as infra-estruturas sociais e económicas sem uma transformação interior é ineficaz. Por essa razão, “a Paz é um bem urgente. A Paz depende de todos. A Paz é possível. Demos as mãos e construamos a Paz, na verdade, no respeito, na justiça, na liberdade e no amor solidário e fraterno” (Carta Pastoral da CEM, 14/02/1985).