A TRADIÇÃO DO LOBOLO

A TRADIÇÃO DO LOBOLO

Por Judite Macuacua Pinto

O Lobolo, é um costume dos nossos antepassados, entre os povos bantus em África, assim como em alguns países da Europa. Esta prática, ainda continua em vigor entre várias famílias, como primeiro passo de moldar as uniões conjugais, especialmente nas províncias do Sul do nosso País.

Em algumas regiões de Moçambique, reza a tradição histórica, que na província de Gaza, o Lobolo era feito através de Tihakas ou seja, frutos da amarga erva espontânea e rasteira, conhecida por Cacana. Apesar de ser tão amarga como a Chicória, os habitantes desta província, bem como de toda a região Sul do nosso país, apreciam-na para a sua culinária, enquanto nas restantes regiões, Centro e Norte, é usada para fins medicinais.

O significado do lobolo por tihakas, na óptica dos nossos ancestrais, era de que, à semelhança da cacana que gera os frutos tihakas, a mulher lobolada, também tem de ter o poder de procriação.

Importa referir, que até aos nossos dias, nas regiões que esta pratica é tradicional e ao mesmo tempo cultural, nenhuma rapariga pode contrair o matrimonio quer seja civil e quer seja religioso, sem passar por este processo.

Com o recrutamento dos primeiros grupos de moçambicanos para trabalhar nas minas de ouro na África do Sul, provavelmente na década dos anos 30, o Lobolo deixou de ser feito por Tihakas e passou a ser feito por enxadas, que de certo modo, significavam o início de uma relativa evolução desta prática.

Assim, o sociólogo moçambicano, Adelino Esteves Tomás, define o Lobolo, como a compensação pela saída da noiva do seu grupo para o grupo do marido e pode ser constituído por enxadas, bois, dinheiro ou outros bens. Por outro lado, o lobolo é uma forma de compensar a família pela perda de um dos seus membros (mulher lobolada).

Por se tratar de um fenómeno cultural milenar em África e particularmente em Moçambique e também na Europa, nos antigos romanos, sabe-se que havia uma prática de alianças entre as famílias, em que a mulher era um bem a negociar, um objecto de dádiva ou de troca. Nestas alianças, o futuro sogro ou o noivo, pagava um dote ao pai da noiva, dote que entretanto, ficava até ao nascimento do primeiro filho.

De qualquer modo, como refere a fonte, no contexto da realidade, o casamento resulta de um acordo de conveniência, através do qual, o nubente, obriga-se também a entregar um dote (lobolo), avaliado em bens materiais aos parentes directos da noiva.

É desta forma que, historicamente, o lobolo serve como um mero instituto de unificação das famílias nubentes.

 

Lobolo- Rosto da violência contra mulher?

Num passado muito recente e até aos nossos dias, alguns segmentos da sociedade, entendem que a representação dominante entre os homens que adquirem as mulheres por meio do lobolo, eles não devem nada aos pais das mulheres e, por isso, elas não podem e nem devem questionar as decisões dos maridos nem desobedecer às suas ordens, pois tais homens escravizam e oprimem as suas mulheres, alegando que pagaram para as ter.

Em suma, estas representações, permitem que os homens legitimem o seu poder sobre as mulheres, persuadindo-as que a contrapartida do lobolo pago, traduz-se na submissão incondicional que exigem e esperam das respectivas mulheres.

 

Aceitabilidade do costume do lobolo

A este propósito, apesar de a sociedade, na generalidade se identificar com o costume do lobolo, pessoas há, que divergem quanto à aceitação ou não deste costume, sobretudo as mulheres, nas suas vidas.

 

É porque, no seu entender, volvidos vários anos após o fim da escravatura, ninguém pode comprar ninguém, por se considerar, na sua óptica, que o lobolo é uma forma de comprar a mulher e que o casamento não pode seguir essa linha de pensamento.

No entanto, esta não aceitação do costume do lobolo é, de certa forma, o reflexo do carácter mercantil que o costume tem assumido ao longo da sua existência histórica, pois as sociedades evoluem e são dinâmicas.

Decerto, o costume do lobolo é milenar e tem incidido na cultura de moldar as uniões conjugais e na crença da ligação com os defuntos, informando-os sobre os filhos que daí serão gerados.

Por outro lado, estas práticas são reproduzidas na vida adulta dos casais e legitimam a violência contra as mulheres que resulta na subalternização das próprias mulheres e na sua relegação a um estatuto inferior na família e na sociedade.

Finalmente, importa-nos referir que, sendo o lobolo um costume, também se assemelha às pressões sociais, que muitas vezes são responsáveis pela manutenção de certas formas de violência doméstica, pelo seu impacto negativo, principalmente nas mulheres de pouca escolaridade às quais, de forma exclusiva, estão sujeitas ao aconselhamento pré-nupcial.

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