Missão é partir: idade é uma experiência e não obstáculo
No Evangelho de são Mateus 28,19-20, o Mestre diz: “Portanto, ide, ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; Ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco, todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém”.
As experiências de várias pessoas de diferentes nacionalidades que partem à Missão e se encantam com o povo autóctone marca para toda vida. É assim que sente a Ir. Elisa, religiosa Pastorela de 83 anos de idade.
No ano de 2000, início do terceiro milênio, um grupo formado por quatro religiosas, italianas, da Congregação de Jesus, o Bom Pastor, Pastorelas, chegava nas terras de Moçambique, especificamente, na diocese de Pemba, em Cabo Delgado.
A juventude e o ardor missionário caracterizava as quatro mulheres com o carisma de Jesus o Bom Pastor, para animar as paróquias, como prioridade e ofício. Não são “párocos”, mas “auxiliadoras” diretas dos párocos, os agentes e atividades pastorais.
Numa diocese que contava com poucas congregações, um novo instituto religioso se fazia presente com a chegada das Irmãs: Dina, Rosângela, Elisa e Lucia.
A pedido de Dom Tomé Makhwèliha, então bispo de Pemba, as Pastorelas se instalaram na paróquia da Sé Catedral de São Paulo, cidade de Pemba.
Depois de longo período sem nenhuma formação profunda de catequistas, as Pastorelas foram encarregues a levar a cabo a tarefa de passar em todas as paróquias animando o povo com novos modelos de ensinar a catequese e testemunhar o Evangelho de Cristo.
Conheceram a diocese e encontraram várias pessoas de culturas e etnias diferentes.
Enquanto duas: Dina e Lucia partiam para às paróquias e aldeias longe da cidade, Rosângela e Elisa ficavam em Pemba, contudo com outras incumbências: auxílio no seminário diocesano, apoio aos pobres e cuidado da pequena livraria católica.
Aos poucos, as consagradas foram se instalando na diocese e na cidade de Pemba.
Com o término da construção da casa e instalação da comunidade religiosa oficial, fixaram-se em Gingone, um dos bairros de Pemba, espaço que acolheu por muitos anos a maior e única biblioteca-livraria privada.
Os anos passaram, as mudanças bateram a porta e as irmãs pioneiras foram se separando para outros compromissos em destinos diferentes. Algumas estão na Itália e outras em Pemba animando as irmãs nativas e as jovens formandas.
Um dado fundamental que nos leva a fazer este artigo de agradecimento e encorajamento, é a perseverança e ousadia da Ir. Elisa, uma das pioneiras.
Ir. Elisa, tímida aparentemente, bastante humilde, a *”Dulce dos Pobres”* de Pemba, de poucas palavras e muita ação, já retornou a Pemba depois de aproximadamente dois anos fechada na Itália.
Quando foi a Itália de férias e cuidar um pouco de sua saúde, Ir. Elisa já havia celebrado os 80 anos de vida bem vivida e doada, o “Jubileu de Diamante” da Vida consagrada a Deus e nas Pastorelas, cerca de vinte anos de Missão na diocese de Pemba e uma larga experiência no trabalho pastoral e social com os pobres e marginalizados, particularmente, as mulheres carentes de Pemba e arredores.
Por causa da COVID-19 e da guerra em Cabo Delgado, norte de Moçambique, quando mais os anos foram se passando, a ideia de que a religiosa “velhinha” não voltaria parecia fixa na mente das pessoas.
A saudade apertava no coração, no entanto, o agradecimento a Deus pela vida e vocação da Ir. Elisa perpassava na vida de todas pessoas que a conhecem.
Não obstante a todos os fatores que contribuiriam para a Ir. Elisa não voltar a Moçambique, principalmente pela idade, fomos surpreendidos com a notícia do seu retorno: mais animada e entregue aos desígnios de Deus como se uma religiosa juniora se tratasse.
Às 16h, horário da Itália, do dia 23 de Junho de 2022, ligamos como de costume a nossa amada irmã.
Atende o telefone com dúvida se era ligação a partir de Moçambique ou outro lugar, ela pergunta: ” tu ligas donde, onde estás?”
Antes de terminarmos a resposta, a missionária anuncia com muita alegria que em agosto deste ano, já vai a Pemba.
Porque nas conversas anteriores já mostrava essa vontade de voltar a Moçambique apesar da resistência das superioras, familiares e amigos, não ficamos tanto surpresos quando a Ir. Elisa anunciou a viagem.
Na tentativa de desanima-la, tem gente que insistia e insiste em perguntar a irmã o que fará na África? Uma pergunta que perde sentido olhando a dimensão missionária que não deve se restringir em fazer.
Missão é partir não obstante ao fator idade
Missão é deixar que o Senhor envie a pessoa para onde quer que o missionário ou a missionária vá e esteja para testemunhar o Amor de Deus.
Missão é não focar nos problemas mas transformá-los em desafios do projeto da Evangelização.
Missão é não se limitar pela idade, riqueza ou pobreza, clima, e formação.
Missão é seguir para frente a exemplo dos setenta e sete discípulos que foram dois a dois às povoações enviados pelo Mestre Jesus.
Missão é compreender que quem parte leva o Evangelho e o dono da Messe estará sempre presente.
Missão é ir ao encontro do outro para partilhar a vida.
Missão é fazer como a irmã dos pobres, nossa Elisa, apesar dos mais de oitenta anos, vai ao encontro do seu primeiro amor pela missão, o povo da diocese de Pemba.
Missão é ser com Deus e estar com os irmãos e as irmãs.
Portanto, Ir. Elisa não vai “fazer” nada, mas irá “ser com Deus e estar com o povo” que ela tanto ama.
Conversando com ela, Ir. Elisa disse: “se eu morrer posso ser enterrada junto com meu povo, na terra que eu tanto amo”.
Não há mais motivo de brigarmos com ela na tentativa de desencoraja-la para ir a Missão porque ela é uma autêntica e verdadeira missionária. Ela já está no meio do seu povo e feliz porque é sua escolha. Estar na Missão e com povo da terra do índico, torna Ir. Elisa uma pessoa, uma mulher, uma mãe dos pobres realizada.
Tu que és jovem, aprenda com a nossa “velhinha” Elisa a doar-se e partir porque o Mestre te chama hoje e agora.
A exemplo de são Daniel Comboni, irmã Elisa é mais uma italiana que oferece sua vida por África. Missão é partir ao encontro do outro.
Bom retorno a Moçambique, Ir. Elisa e boa estadia em Pemba, terra muito estimada por ti.
O povo que também ama a sua velhinha Elisa, esperava e está acolhendo a si novamente de braços abertos.
Servo inútil,
Pe. Fonseca Kwiriwi, CP.