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Mai 10 2021

Shistomiase ou bilharziose

Por JĂşlia Tarrua Shistomiase – Ă© uma doença infecciosa parasitária provocada por um tipo de vermes que sĂŁo assexuados separados.   Como se apanha a shistossomiase? AtravĂ©s das aguas dos rios onde encontramos a reprodução das cercarias do caracol e estes penetram na pele e podem provocar inflamação do fĂ­gado e do baço. O homem Ă© o principal hospedeiro definitivo, daĂ­ que os vermes adultos macho e fĂ©mea copulam-se nos vasos sanguĂ­neos e depositam ovos que vĂŁo para a circulação venosa e depois para a bexiga. A shistossomiase tem um perĂ­odo de incubação de 15 dias a 2 anos.   Sintomas – Dores abdominais – Dores de cabeça -Mal estar (astenia) calafrios -Febres -Tosse seca -Dores da bexiga -HematĂşria terminal (urina com sangue na ultima micção) e dermatite shistomica na face crĂłnica. A shistomiase tem cura desde que o individuo Ă© diagnosticado. Complicações -Esterilidade -ImpotĂŞncia sexual -Funções do fĂ­gado, laterĂ­cia -Ascite -Anemia -Neurite por causa da circulação colateral dos ovos ou lombrigas   Prevenção -Tomar banho no rio depois das 9 horas usar proteção nos pĂ©s sempre que for ao rio -NĂŁo defecar ou urinar na água durante o banho.   BOX 31 de Janeiro Dia mundial de luta contra a lepra Este dia foi instituĂ­do em 1954 pela ONU, a pedido de Raoul Follereau, o apĂłstolo dos leprosos do sĂ©culo XX, que um dia afirmou que “nĂŁo há sonhos grandes demais”. Esta efemĂ©ride tem o objectivo de sensibilizar as pessoas para a discriminação exercida sobre os doentes com lepra, assim como promover a ajuda dos leprosos e a sua reintegração social. Foi escolhido o Ăşltimo domingo de Janeiro para a celebração em honra de Gandhi, falecido neste dia, que afirmou que “eliminar a lepra Ă© o Ăşnico trabalho que nĂŁo consegui completar na minha vida”. O objectivo mundial Ă© continuar o seu trabalho. A doença da lepra A lepra trata-se de uma doença transmissĂ­vel, que afecta os nervos e a pele. A lepra tem cura, apesar de necessitar de uma longa Ă©poca de incubação e de tratamento. Na sua origem estĂŁo a falta de água potável e de higiene, a desnutrição, entre outros males associados Ă  pobreza. Todos os anos surgem entre 400 a 500 mil novos casos de lepra. Esta doença tambĂ©m Ă© conhecida por doença de Hansen, pois foi um mĂ©dico holandĂŞs chamado Gerhard Hansen que descobriu o bacilo responsável pelo surgimento da doença em 1873.

TRAVÕES DO DESENVOLVIMENTO DE MOÇAMBIQUE

Por Dr. Tomas Selemane O que Ă© que trava o desenvolvimento do pais? Começamos o ano novo com uma nova rubrica: Contraponto. Umas páginas de reflexões polĂ­ticas, econĂłmicas e sociais Ă  luz da Doutrina Social da Igreja (DSI), um convite Ă  acção por uma sociedade mais justa. OcasiĂŁo para reflectir o que geralmente se acredita ser verdade e para procurar apelar a mais acção, Ă  mudança de atitude, ao maior engajamento cristĂŁo, de modo a sairmos da situação de catĂłlicos somente de baptismo e de missas. Começamos a nossa viagem identificando os maiores travões do desenvolvimento de Moçambique. A opiniĂŁo pĂşblica identifica como principais travões do desenvolvimento do nosso paĂ­s, a pobreza, o desemprego, a insuficiĂŞncia de escolas e hospitais, de estradas pavimentadas, ou simplesmente transitáveis, a fraca produtividade agrĂ­cola, a desnutrição, e por aĂ­ a diante. PorĂ©m, todos esses problemas sĂŁo consequĂŞncias de outros problemas mais profundos. Intolerância polĂ­tica É a intolerância polĂ­tica o primeiro maior travĂŁo do desenvolvimento de Moçambique. Inspirados na Ăşltima EncĂ­clica do Papa Francisco “Fratelli Tutti” – Somos todos irmĂŁos: Sobre a Fraternidade e a Amizade Social – consideramos como sendo o primeiro maior travĂŁo do desenvolvimento de Moçambique a intolerância polĂ­tica no seu sentido mais amplo. NĂŁo me refiro Ă  intolerância partidária que produz e reproduz Ăłdio entre membros e simpatizantes dos diferentes partidos polĂ­ticos, com maior destaque para os trĂŞs maiores (Frelimo, Renamo e MDM). Refiro-me Ă quela intolerância que igualmente gera e reproduz Ăłdio entre os membros e simpatizantes do mesmo partido polĂ­tico. A intolerância que está na origem das desavenças que se vivem dentro dos partidos polĂ­ticos, de forma particular, e dentro da nossa sociedade, de forma geral. Harmonia nas diversidades Na sua EncĂ­clica “Somos todos irmĂŁos”, o Papa Francisco ensina-nos como podemos construir um mundo melhor a partir da aceitação do Outro, de como a fraternidade e a amizade social podem ajudar-nos a construir um mundo pacĂ­fico e com mais justiça. E este Ă© exactamente, do nosso ponto de vista, o primeiro maior problema de Moçambique: como aceitar as diferenças sociais e polĂ­ticas, dentro e fora dos partidos polĂ­ticos? Porque Ă© que nĂŁo vemos uma convivĂŞncia harmoniosa, salvo raras excepções que confirmam a regra, entre pessoas de partidos polĂ­ticos diferentes? Mais preocupante ainda: porque Ă© que nĂŁo vemos harmonia entre os diferentes grupos dentro dos principais partidos polĂ­ticos? Intolerância dentro dos partidos polĂ­ticos Por exemplo, sĂŁo conhecidas as desavenças que houve dentro do partido Frelimo entre o grupo do Presidente Guebuza e o grupo do seu antecessor, o Presidente Chissano. Foi notĂłria a votação ao esquecimento do segundo grupo pelo primeiro, muitas vezes com pronunciamentos pĂşblicos indecentes, incluindo prisĂŁo de ex-governantes num claro fingimento de combate Ă  grande corrupção. Com a chegada do Presidente Filipe Nyusi Ă  PresidĂŞncia do paĂ­s e da Frelimo, temos visto tambĂ©m o mesmo grau de intolerância entre o seu grupo de apoiantes e o grupo do seu antecessor. Como que a completar a trágica coreografia polĂ­tica, essa intolerância inclui tambĂ©m pronunciamentos pĂşblicos de uns contra os outros, incluindo tambĂ©m prisões de ex-governantes: Sempre em nome de um suposto combate Ă  corrupção. Digo suposto porque fora das prisões nĂŁo vemos nenhumas reformas Ă s causas da grande corrupção no paĂ­s. Estes sĂŁo sinais de como a intolerância polĂ­tica no nosso paĂ­s Ă© mais profunda do que a intolerância partidária. E na Renamo? Do lado da Renamo, sĂŁo conhecidos os desentendimentos entre o grupo de apoiantes do Presidente Ossufo Momade com o grupo do seu antecessor, o Presidente Afonso Dhlakama. O surgimento da autoproclamada Junta Militar – com todas as consequĂŞncias que dela advĂŞm – deve ser entendido no contexto dessa intolerância polĂ­tica, essa falta de capacidade de aceitação do Outro por parte de ambos os grupos. NĂŁo vemos tentativas nem esforços de convivĂŞncia mĂştua, de aceitação de que “somos todos irmĂŁos” tal como nos ensina o Papa Francisco. E no MDM? Do lado do MDM tambĂ©m vimos como a falta de aceitação entre irmĂŁos resultou em saĂ­das de membros daquele partido, tendo inclusive chegado ao trágico cĂşmulo da morte do ex-Presidente do MunicĂ­pio de Nampula, Mahamudo Amurane. Sem conclusĂŁo das investigações das autoridades da justiça sobre as causas e os mandantes daquele assassinato, está assente no plano de análise polĂ­tica a discĂłrdia que existia entre a direcção do MDM e aquele dirigente autárquico. VocĂŞ nĂŁo Ă© dos nossos! É conhecida a discriminação, por exemplo, de pessoas que nĂŁo sejam do partido no poder quando se trata de nomeações para cargos governativos, a vários nĂ­veis. Mas tambĂ©m, nos locais onde os partidos da oposição (Renamo e MDM) governam, nĂŁo vemos procedimentos de aceitação do Outro. Notamos o mesmo grau de intolerância polĂ­tica, neste caso em miniatura, porque sĂŁo casos registados a nĂ­vel municipal. Ao passo que a intolerância polĂ­tica da Frelimo Ă© mais visĂ­vel porque ocorre a nĂ­vel nacional e dentro de diferentes territĂłrios do paĂ­s. Promover a tolerância politica Podemos afirmar que sem aceitação mĂştua, sem tolerância e compreensĂŁo das nossas diferenças – se nĂŁo nos tratamos como irmĂŁos – Ă© impossĂ­vel criarmos desenvolvimento. Podemos ir aumentando o nĂşmero de escolas e de hospitais, por exemplo, mas se nĂŁo assumimos que essas escolas e hospitais devem pertencer a todos os moçambicanos, tanto para o seu uso como para a sua gestĂŁo, vamos apenas ter mais escolas e mais hospitais com mais exclusĂŁo, e por consequĂŞncia, com maior desigualdade. Por isso, Ă© importante que nĂłs os catĂłlicos sejamos “sal da terra e luz do mundo” (Mat. 5: 13, 14) e marquemos diferença nos diferentes sectores da sociedade onde trabalhamos, ao contrário da inĂ©rcia em que vivemos actualmente!

Liturgia do tempo da Quaresma

Por Pe CantĂ­fula de Castro 40 dias para renovar-nos Anualmente, o ciclo da liturgia oferece-nos a oportunidade de uma longa caminhada de Quaresma. Trata-se de um tempo de preparação “pelo qual se sobe ao monte santo da Páscoa”, como o descreve o Cerimonial dos Bispos (CB 249). O tempo da Quaresma começa na Quarta-Feira de Cinzas e termina pela tarde de Quinta-Feira Santa, antes da Missa Vespertina da Ceia do Senhor, com que se inaugura o TrĂ­duo Pascal.   Origem da Quaresma A Quaresma organizou-se a partir do sĂ©culo IV. A sua histĂłria anterior nĂŁo Ă© muito clara. Parece que o seu gĂ©rmen original foi o jejum pascal de dois dias, na Sexta e no Sábado antes do Domingo da Ressurreição, espaço que, a pouco e pouco, se alargou a uma semana, depois a trĂŞs e, segundo as diversas regiões, sobretudo nas do Oriente, como o Egipto, atĂ© Ă s seis semanas ou quarenta dias. Em Roma, a Quaresma já estava constituĂ­da, entre os anos 350 e 380.   PorquĂŞ quarenta dias? Para dar sentido a este perĂ­odo, como preparação da Páscoa, teve certamente grande influĂŞncia o simbolismo bĂ­blico do nĂşmero quarenta. Vejamos alguns exemplos apresentados pela BĂ­blia. O dilĂşvio durou quarenta dias antes da aliança de Deus com NoĂ©, conforme narrado em GĂ©nesis 6,1-8,12; Encontramos tambĂ©m MoisĂ©s que ficou quarenta dias e quarenta noites no monte (ĂŠxodo 24,18); MoisĂ©s intercedeu em nome de Israel por 40 dias e 40 noites (DeuteronĂłmio 9,18-25); a Lei especificava um nĂşmero máximo de chicotadas que um homem poderia receber por um crime, e esse limite era 40 (DeuteronĂłmio 25,3); os espiões israelitas levaram 40 dias para espionar CanaĂŁ (NĂşmeros 13,25); antes da libertação de SansĂŁo, Israel serviu os filisteus por 40 anos (JuĂ­zes 13,1); Golias provocou o exĂ©rcito de Saul por 40 dias antes de David chegar para matá-lo (1 Samuel 17,16). Por outro lado, o Povo de Israel caminhou durante quarenta anos pelo deserto (NĂşmeros 14,26-35); a mesma sorte caiu para o profeta Elias que caminhou quarenta dias e quanta noites para o monte Sinai ao encontro de Deus (1Reis 19,1-8). No Novo Testamento, Jesus Cristo passou quarenta dias e quarenta noites no deserto, antes de começar a sua missĂŁo messiânica (Mateus 4,1-11). Deste modo, os quarenta dias de preparação para a Páscoa aparecem como um tempo de prova, de purificação e de preparação para um acontecimento importante e salvador. O Catecismo da Igreja CatĂłlica explica que “Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja une-se ao mistĂ©rio de Jesus no deserto” (CIC, 540).   A Espiritualidade da Quaresma Antigamente, a Quaresma começava originariamente no Domingo. Mas, nos sĂ©culos VI-VII acentuou-se como caracterĂ­stica determinante o jejum, e como, aos domingos, nĂŁo se jejuava, adiantou-se o seu inĂ­cio para a quarta-feira anterior ao primeiro domingo, a que de imediato se chamou “de Cinzas”, para que a Páscoa fosse precedida de quarenta dias de jejum efectivo. A Igreja propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de cinzas, trĂŞs grandes linhas de acção: a oração, a penitĂŞncia e a caridade. NĂŁo somente durante a Quaresma, mas em todos os dias de sua vida, o cristĂŁo deve buscar o Reino de Deus, ou seja, lutar para que exista justiça, paz e o amor em toda a humanidade. Os cristĂŁos devem entĂŁo recolher-se para a reflexĂŁo e assim aproximar-se de Deus. Esta busca inclui a oração, a penitĂŞncia e a caridade, esta Ăşltima como uma consequĂŞncia da penitĂŞncia. A Quaresma Ă© um tempo forte de conversĂŁo e de mudança interior, tempo de deixar tudo o que Ă© velho em nĂłs. Tempo de graça e salvação, em que nos preparamos para viver, de maneira intensa, livre e amorosa, o momento mais importante do ano litĂşrgico e da histĂłria da salvação: a Páscoa, aliança definitiva, vitĂłria sobre o pecado, a escravidĂŁo e a morte. A espiritualidade da Quaresma Ă© caracterizada tambĂ©m por uma atenta, profunda e prolongada escuta da Palavra de Deus. É esta Palavra que ilumina a vida e chama Ă  conversĂŁo, infundindo confiança na misericĂłrdia de Deus. O confronto com o Evangelho ajuda a perceber o mal, o pecado, na perspectiva da Aliança, isto Ă©, a misteriosa relação nupcial de amor entre Deus e o seu povo. Motiva para atitudes de partilha do amor misericordioso e da alegria do Pai com os irmĂŁos que voltam convertidos. Enfim, a espiritualidade da Quaresma Ă© apresentada pela Igreja como um caminho para a Páscoa e mistĂ©rio Pascal de Cristo e exprime-se no exercĂ­cio das obras de caridade, no perdĂŁo, na oração, no jejum, principalmente no jejum do pecado. O ConcĂ­lio Vaticano II determinou expressamente que se acentuasse o carácter baptismal e penitencial da Quaresma, “sobretudo atravĂ©s da recordação ou da preparação para o Baptismo e atravĂ©s da PenitĂŞncia, dispõe os fiĂ©is, que com mais frequĂŞncia ouvem a Palavra de Deus e se entregam Ă  oração, para a celebração do MistĂ©rio Pascal” (SC, 109). Agora “a liturgia quaresmal prepara para a celebração do MistĂ©rio Pascal tanto os catecĂşmenos, atravĂ©s dos diversos graus da iniciação cristĂŁ, como os fiĂ©is, por meio da recordação do Baptismo e das práticas de penitĂŞncia” (NG 27).   O que muda nas celebrações no Tempo da quaresma? As seis semanas da Quaresma dividem-se em trĂŞs etapas, marcadas pelos Evangelhos correspondentes: os dois primeiros domingos, com as tentações e a transfiguração do Senhor; os trĂŞs seguintes, com as catequeses baptismais da samaritana (água), do cego (luz) e Lázaro (vida), prĂłprias do Ciclo A, mas que se podem seguir cada ano, embora haja outra sĂ©rie de leituras param cada ciclo; e, finalmente, o sexto domingo, chamado de Ramos ou da PaixĂŁo, que inaugura a Semana Santa. A liturgia da Palavra salienta alguns momentos significativos da HistĂłria da Salvação: a criação do mundo, AbraĂŁo, o ĂŠxodo e MoisĂ©s, o rei David, os profetas e o Servo de JavĂ©. Tudo isso ajuda a entender a Quaresma como um caminho de crescente preparação para a celebração da Páscoa. Na liturgia nĂŁo se canta Aleluia e o GlĂłria. O

VOLTAMOS AO MONOPARTIDARISMO. DE QUEM É A CULPA?

Geralmente chama-se de monopartidário o regime vigente em paĂ­ses que sĂŁo governados apenas pela influĂŞncia ou domĂ­nio absoluto ou relativo de um Ăşnico partido na gestĂŁo pĂşblica. Nesses paĂ­ses, nĂŁo existem, pelo menos de forma expressiva, outros partidos polĂ­ticos. Geralmente neles nĂŁo há liberdade, há apenas ditadura. Em 1994 as primeiras eleições quebraram o monopartidarismo e o cenário polĂ­tico nacional passou a ser multipartidário, o que estabeleceu a democracia. Desde lá, há partilha de lugares na Assembleia da RepĂşblica pelos partidos polĂ­ticos que se supõe representarem o povo. Com essa configuração supõe-se que haja debate para a construção do paĂ­s, as arbitrariedades diminuam, a liberdade dos cidadĂŁos cresça e o bem-estar e a justiça sejam igualitários para todos. 6ÂŞs eleições gerais Ora, as Ăşltimas eleições trouxeram reultados pouco animadores para esse modelo já estabelecido. A Frelimo ganhou (segundo os resultados oficiais) de forma retumbante, conseguiu a eleição de dez governadores para todas as provĂ­ncias, bem como a eleição de 184 deputados. De acordo com analistas conhecedores do direito, com este nĂşmero de deputados e o controlo quase absoluto das Assembleias provinciais, a Frelimo poderá agir como no periodo entre 1975-1990, ouseja, sozinha poderá fazer o quorum para deliberar em sessões da AR, aprovar o plano do governo, alterar (querendo) a Constituiçãoda RepĂşblica e tomar muitas outras medidas necessárias sem precisar de debate multipartidário. PoderĂ­amos muito bem dizer que o que aconteceu Ă© resultado de um processo eleitoral e que Ă© normal e, por isso, confiarmos no bom senso da Frelimo para assumir essa hegemonia no espĂ­rito democrático. Entretanto, a nossa memĂłria nĂŁo nos permite ser ingĂ©nuos e pelo modo de gestĂŁo arbitrária e pouco transparente a que a Frelimo nos habituou, temos que duvidar sobre a prevalĂŞncia da genuĂ­na democracia neste quinquĂ©nio. Mas a quem podemos atribuir a culpa por este retrocesso democrático? Quase toda a gente, ao falar da viciação dos resultados culpa a Frelimo pela sua desonestidade ao influenciar os ĂłrgĂŁos de administração eleitoral e pelos constantes processos eleitorais nĂŁo credĂ­veis. Estamos de acordo! Mas o que muita gente nĂŁo colocou em questĂŁo nem mesmo os partidos derrotados assumiram Ă© se Ă© possĂ­vel um partido como Frelimo, tendo margens de manobra que lhe sĂŁo facilitadas pelos seus adversários poder assistir o seu prĂłprio prejuĂ­zo. Algum partido moçambicano que almeja o poder faria isso? Por que motivos 25 anos depois da democracia eleitoral, já nas sextas eleições, o que nos permitiu ter adquirido certa maturidade, a Frelimo continua a viciar resultados de forma fácil, básica, sem esforço e ganhá-las sem que ninguĂ©m se dĂŞ conta apresentando provas verĂ­dicas de viciação? Que capacidades os partidos polĂ­ticos da oposiçãoe a sociedade civil nĂŁo tĂŞm para contrariar a questionável manutenção no poder da Frelimo? Acho que isto tem a ver com dois problemas.   Primeiro Problema: o medo se sobrepõe ao profissionalismo Em primeiro lugar acho que temos uma sociedade civil cobarde. A nossa democracia nĂŁo se vai desenvolver enquanto os organismos da sociedade civil e os intelectuais que temos continuarem isolados entre si. SĂŁo dominados pelo medo e pelo interesse porque agem separados, por isso nĂŁo denunciam maus tratos, violação de direitos, detenções arbitrárias por medo de represálias. É o medo que faz com que funcionários pĂşblicos vistam a camisete vermelha e façam campanha eleitoral contra a sua vontade; Ă© o medo que faz com que agentes da polĂ­cia ajam contra a lei e contra a sua consciĂŞncia, obedecendo a ordem imoral; Ă© o medo que leva magistrados a arquivar processos ou a arrastá-los por longo tempo, a aplicar pena suave ou a ilibar pessoas em tribunais mesmo que tenham manifesta culpa. Em suma, o medo se sobrepõe ao profissionalismo. Onde há medo nĂŁo há cidadania nem democracia. É ridĂ­culo que membros da sociedade civil tenham sido mortos, encarcerados, espancados e ameaçados e ninguĂ©m ou nenhum grupo tenha feito nada. Uma sociedade civil forte e que age em bloco seria a protecção contra as arbitrariedades. Separados, continuaremos a assistir aarbitrariedades e a Ăşnica coisa que conseguiremos fazer serĂŁo comentários que nĂŁo vĂŁo mudar nada. Segundo Problema: Interesse prĂłprio Outro problema da sociedade civil Ă© o interesse prĂłprio. A nossa sociedade civil está cheia de pessoas interesseiras capazes de trocar o seu patriotismo pela promessa de somas de dinheiro ou um cargo pĂşblico. SĂŁo crĂ­ticos activos ao regime injusto, apresentam boas propostas de solução, mas apenas tenham frustrações financeiras, basta que lhes façam propostas aliciantes para trair a sua consciĂŞncia e a causa patriĂłtica.Por isso sĂŁo raros crĂ­ticos patriotas a favor do bem-estar social colectivo.A maior parte dos intelectuais e acadĂ©micos fala e escreve a favor do partido no poder independentemente das injustiças que este tenha cometido contra o paĂ­s e outros falam contra o partido no poder independentemente do bem que tenha feito em favor do Estado. Uma sociedade civil assim, sem compromisso patriĂłtico, Ă© incapaz de fazer uma reclamação capaz de mudar o rumo das coisas. Portanto, por causa do medo e do interesse dos cidadĂŁos, este paĂ­s já teve as piores injustiças, as pĂ©ssimas arbitrariedades, os mais graves crimes de corrupção, as mais graves violações de direitos humanos e nenhuma sociedade civil foi capaz de fazer nada para devolver a moralidade. Por que motivo poderĂ­amos pensar que essa sociedade civil seria capaz de impugnar simples eleições injustas? Terceiro Problema: fragilidade dos partidos polĂ­ticos O terceiro problema que acho mais grave Ă© que temos partidos polĂ­ticos frágeis. As Ăşltimas duas eleições vieram provar, de entre várias coisas, que a cada vez o povo está mais democraticamente maduro do que os partidos polĂ­ticos. Mudam os tempos, mudam as leis, muda a consciĂŞncia dos cidadĂŁos, mas os partidos polĂ­ticos continuam os mesmos, suas acções permanecem iguais as do passado, ineficientes. É incompreensĂ­vel que partidos polĂ­ticos nĂŁo consigam fazer a coisa básica como obedecer Ă  lei nas suas reclamações sobre as eleições. Os partidos estĂŁo conscientes da partidarização das instituições do Estado e que por via disso osseus recursos podem ser chumbados se falharem num Ăşnico detalhe na instrução do processo.Ainda nĂŁo

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